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sexta-feira, julho 15, 2011

You Can't Always Get What You Want...

Silêncio.


Constrangedor, torturante, insuportável. E ainda assim, nesse tormento de emoções, olhar no fundo daqueles olhos ainda o trazia conforto. Ainda trazia aquelas sensações de muito tempo atrás, que ele havia prometido a si mesmo que "tinha esquecido", que "tinha superado".


O mundo era resto, era insignificância. A cada vez que desviava o olhar, seja pelo desconforto, seja pela dor, sentia-se tentado a fitar de novo aqueles malditos olhos, que agora refletiam culpa e arrependimento, mas que outrora refletiam o seu eu, feliz, esperançoso, e agora morto. Morto porque tais sentimentos agora não existiam mais. Ele havia mudado. Seu amor ainda era verdadeiro, sua culpa ainda o enlouquecia, suas mentiras ainda o perseguiam.


E ela assistia ao macabro espetáculo com ar de pena, embora ele pensasse que ela correspondia ainda ao amor. Talvez correspondesse, e dar-lhe-ia um sentimento tão puro que o faria nunca mais ser o mesmo. Mas isso se não se tratasse de uma despedida. Quem sabe se aquele par tivesse em seu primeiro encontro, contando besteiras, deixando escapar segredos, sem ver o tempo passar... Quem sabe, aí sim, ele seria merecedor daquele amor. A realidade, no entanto, era outra.


Ela o consolava, enquanto ele indagava o porquê daquilo, pensando se ela não deveria também compartilhar daquele sentimento, daquela tristeza. Pensava como seria melhor odiá-la, simplesmente. Ironicamente, odiava a si mesmo, tanto pelo erro, quanto pela persistência. E torcia, rezava, suplicava. Confuso, porém. Não sabia se queria afinal que aquele momento acabasse, ou se queria que aquilo nunca tivesse acontecido. O primeiro pedido era improvável, o segundo, impossível.


Os pensamentos voavam, o estômago se contorcia, as mãos trêmulas, a voz engasgada nos muitos nós de sua garganta... E ela quieta. Fria? Não. Distante? Tampouco. Encarava-o com aqueles olhos, céus, aqueles olhos...


Estava lá, com ele. E se dando conta disso, ele percebera o egoísmo de achar que ela deveria sofrer o mesmo naquele momento. Ela sofrera, muito mais, muito antes. Ela chorara, muitas vezes antes, enquanto ele estava ocupado, vivendo no seu mundo. Naquele mundo cercado de paredes altíssimas, em que ele vivia protegido. Talvez não para afastar os outros, mas pra ver quem se preocuparia o suficiente para derrubá-las.


A hipocrisia era sua melhor amiga, mas não ia ajudá-lo agora. Ninguém ia. Ele estava sozinho com suas decisões, ou pior, com as consequências das mesmas.


Agradece por tudo, beija-a. Não seus lábios. Não é que lhe falte vontade, o desejo sempre esteve presente, mas lhe falta a oportunidade. Nunca mais o fará, pensa. 


Não chora. Não ali, não na sua frente. Depois de tudo, o destino, ébrio em crueldade, ainda tem a coragem de pedir lágrimas naquele momento? Tal pedido é negado com veemência, enquanto pensa que lhe cuspiria a face se este não fosse imaterial, e ainda, imutável.


Leva-a a porta de casa, pois o sofrimento não lhe nega a educação.


...educação?


Isto é piada, leitor. Uma pitada de humor cruel. Queria vê-la por mais tempo, queria que 'Deus Ex Machina' se aplicasse a sua situação, como nunca quis nada antes. Queria uma mudança radical de idéias, de sentimentos. Queria tudo como era antes. Educação não faz jus a isso. O que queria ela apenas tê-la. Tudo o que tinha era egoísmo, embora hesite em dizê-lo.


Pede um último beijo. Lhe é negado. Não a culpa, não reclama : não diz nada. O choro contido, e assim permanece (por pouco, mas permanece). Diz que talvez algum dia aqueles tempos em que eram felizes voltem. Mente. Para si mesmo, para o mundo, para quem quiser ouvir. Não tem mais esperança, mas aprendeu a fingi-la.


Um abraço, outro beijo que foge aos lábios. Lhe dá as costas, caminha. Ele percebe que não terá outra chance. A puxa, tece-lhe um último beijo, que falha também ao propósito dos outros dois, e diz, pela última vez :


"Eu te amo."

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